LIVRO Projeto T.: Cara à cara com a sociedade. PDF Marie Newman
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Resumo
"Esses dias enquanto trabalhava em Copacabana, perguntei a mim mesma como alguém tão viajada, instruída e capacitada estava ali se oferecendo para qualquer um pelo dinheiro que viesse, não que eu me ache nenhuma gênia, mas com certeza poderia pensar em algo melhor para ganhar a vida. Só que a resposta veio logo em seguida, necessidade imediata, sou uma mulher trans no Brasil. Não que estivesse passando fome ou morando na rua naquele momento, pelo contrário até para estar na rua se oferecendo é preciso ter uma base onde você possa se arrumar, se maquiar, se pentear e se perfumar. Me senti num açougue e a carne era eu. Estar num bar de prostituição em Copacabana é como estar numa vitrine para olhos consumistas. O melhor produto é o que vale mais, não tem tabela e cada uma dá seu preço, entretanto acredito eu que exista um mínimo para se bater uma porta (termo usado para se prostituir, fazendo referência a bater à porta de um hotel, quarto ou carro). Eu pelo menos fiquei tão perturbada com aquela situação que mesmo sem um real voltei para casa a pé, de madrugada, de salto caminhando pela Orla e sonhando com minha cama. Pensando na minha família, nos meus avós, em todo o investimento que fizeram em mim para eu acabar ali. Cheguei e não tive coragem de dizer ao errinho ou ao nosso amigo que não havia trabalhado, menti dizendo que tinha recebido uma transferência que cairia em dois dias por ser um banco internacional, mas sem nenhum comprovante. Na teoria teria que confiar no meu cliente, como não existiu cliente o dinheiro nunca caiu. Agora imaginem se eu não tivesse minha mãe, ou minha avó e um teto com geladeira e todas as comodidades que o século XXI oferece. Imagina ter que viver disso todos os dias pelo resto da vida ou até uma alma caridosa vir e mudar sua história. Infelizmente é a realidade de muitos, independente de sexo ou gênero. Quanto a mim, a necessidade se deu porque por mais que tenha uma vida abençoada, ninguém da minha família concorda com minha transição, minha mãe aceita, mas não me ajuda com nada. A Marie é uma conquista pessoal totalmente do John, além do que, existem horizontes maiores… Passeios, programas, roupas, perfumes, restaurantes, programas com amigos, praias, viagens, independência!!!! Viver não é de graça e ser mulher é muito caro. Não aguento mais ser aquela pessoa que vive de um passado glorioso, mas que já virou uma memória gostosa até mesmo para mim, imagina para os que me cercam? Ninguém tem paciência ou vontade de pagar tudo quando eu saio, porque atualmente só saio se for levada para sair. Todos os meus projetos são de longo prazo, e o projeto T. inclusive… Além disso e sobretudo preciso de dinheiro para concluir minha transição. Muitos podem encarar como futilidade, mas não é, é uma necessidade, é fazer com que seu corpo encaixe com sua mãe. Infelizmente tudo requer dinheiro… Terapia hormonal, plásticas, cabelo, unha, depilação. Nada é de graça."